O
café já estava esfriando há 50 anos desde a juventude da ninfa de cabelos
vermelhos. Um buraco no tempo sabotou os conectores e nada mais pode-se
transformar. Ela quis abdicar de sua vidência e rogava à natureza para que
emudecesse diante da orquestra de pássaros que surgia com a noite; mas todas as
manhãs se levantava ciente de sua voz, comunicando os sinais da Lua ao Sol que
lhe banhava de calor. Sua testa pulsava diante do Nada mesmo dos dias roubados.
Fios brancos que pendiam da cabeça denunciavam a insistente vontade, uma fome
voraz que restava no âmago da Terra. Diante da morte e do renascimento, a ninfa
debulhava sua inevitável voz nas horas consumidas enquanto bordeava,
entorpecida, os troncos das árvores. Cantava palavras que ainda não existiam
para preencher o eco da floresta. O som enigmático da madeira estalando junto
às folhas assopradas pelo solo respondia à voz da ninfa como um órgão vivo.
Suas mãos transparentes iam segurando os cipós que pendiam do céu e desenhando
símbolos do ar. Por toda a extensão da floresta abriam-se as portas celestes do
tempo corrompido. Por cada entrada ressoava o ruído magnético de um organismo
infinito, e a floresta se reproduzia num dominó de retratos espelhados. A voz
da ninfa era maior que seu corpo; o abandonava para participar de seu Destino.
Seu corpo diluía-se na respiração da floresta, que ligava as sombras e a luz
entre os dias emendados.
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