o
que desespera os braços decididos a acolher caminhos tão errantes é a
assustadora naturalidade do caos. o vasto abismo vislumbrado num portal à meia
luz na janela abriu-se quando eu não pude entender somente a presença da
claridade, mas também as sombras antigas que um desvio revelava. o reflexo de
meus próprios cílios em nebulosas espelhadas mostrava o traço em entalhado na
pupila. os corpos reconhecem uns aos outros quando se desidentificam de si
mesmos e aceitam que invadam suas cavidades líquidas. a fragilidade de cada
gesto sempre foi proporcional à sensação de uma imensa continuidade, um
parentesco órfão, de suas partículas históricas soltas e enterradas. a
tranquilidade de encarar qualquer metamorfose é uma decisão pelo enfrentamento
que não se envergonha das paredes de madeira da casa. cada detalhe transversal do
teto contribuía para embaraçar as coisas invisíveis próprias do mistério da
matéria. o tudo é forte em seu esvaziamento constante nos passos entre tantas
conexões e o meu rosto dormente reagir à poeira soprada dentro duma entrada.
estávamos pertencidos naquele instante fito entre si mesmo e o seu limite.
a
lentidão daquela noite já concedia às turvas formas lugar no espaço junto à
sensação de infimidade. os lugares ocos de você estão abarrotados de
caricaturas e símbolos flutuando. tudo é uma mentira e também é a única forma
possível, tão aberta e tão inverossímil, palpável e estrangeira.
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