o movimento do entre pelo tempo e pelo espaço, onde cada palavra é figura esburacada, e o rosto de ninguém expande ao infinito.

quinta-feira, 31 de março de 2016

Luz barroca

o que desespera os braços decididos a acolher caminhos tão errantes é a assustadora naturalidade do caos. o vasto abismo vislumbrado num portal à meia luz na janela abriu-se quando eu não pude entender somente a presença da claridade, mas também as sombras antigas que um desvio revelava. o reflexo de meus próprios cílios em nebulosas espelhadas mostrava o traço em entalhado na pupila. os corpos reconhecem uns aos outros quando se desidentificam de si mesmos e aceitam que invadam suas cavidades líquidas. a fragilidade de cada gesto sempre foi proporcional à sensação de uma imensa continuidade, um parentesco órfão, de suas partículas históricas soltas e enterradas. a tranquilidade de encarar qualquer metamorfose é uma decisão pelo enfrentamento que não se envergonha das paredes de madeira da casa. cada detalhe transversal do teto contribuía para embaraçar as coisas invisíveis próprias do mistério da matéria. o tudo é forte em seu esvaziamento constante nos passos entre tantas conexões e o meu rosto dormente reagir à poeira soprada dentro duma entrada. estávamos pertencidos naquele instante fito entre si mesmo e o seu limite.

a lentidão daquela noite já concedia às turvas formas lugar no espaço junto à sensação de infimidade. os lugares ocos de você estão abarrotados de caricaturas e símbolos flutuando. tudo é uma mentira e também é a única forma possível, tão aberta e tão inverossímil, palpável e estrangeira.

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