o movimento do entre pelo tempo e pelo espaço, onde cada palavra é figura esburacada, e o rosto de ninguém expande ao infinito.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

cadente

parece que quando penso em escrever, os burbúrios em ideias concisas que conversam conversas infinitas dentro da minha testa saem pra algum lugar, de acordo com a velocidade nas moléculas exteriores a esta borda. então, encontro-me com os pés tão ajeitados um contra o outro que não me surpreendem os barulhos ocorrendo por fora, nem os sons abismáveis das músicas. lembro-me que envolvia a sensação de meter as mãos pelos olhos ou raciocinar melhor ao ar livre. as coisas (porque eu gosto de seu tom desabusado) que não posso pegar confundem a natureza infantil do cérebro, pois garantem sua tolice. então, resolvi sair para não negar a mulher-dona-do-rio que existe em mim. assim, atraio todo tipo de bicho. pois, quando tento falar, certa angústia que não é própria dos cantares e das cores atropela à renúncia de um novo amor. às vezes se está pouco, pois se duvida demais do que se é. aquela estrela estava se mexendo na diagonal, com movimentos leves e precisos, eu vi e este violão também. da mesma forma, o passado vira nostalgia para mostrar a existência a cada viver. não há repetição de palavras ou de corpo-no-corpo, pois a cada respirada inteira e voluntária que despejo sobre os pulmões, a primeira célula do organismo inicia uma viagem transmissionária por entre suas conexões. e algo explode, sussurrando um segredo. no vento que contamina as árvores do meu ar livre, escuto começos, a cada baixo-som tomando as partes quentes do corpo, começos, começos, não há final sem o começo do processo ad contínuo do início do embrião disseminado, estando, por núcleos e animais adormecidos, em sonho. conversar requer atenção. e toda correria só é esgotável quando permito-me esmagar um inseto com o desespero desta minha tinta, espalhada por minhas mãos e sobre qualquer pretensão representativa do céu ou do amor. aquele burbúrio branco desapareceu por todo o registo do sempre (talvez agora). por algum motivo, o movimento cármico do esquecimento, ao buscar-me lembrar, é a triste despedida do eterno rastro. e o que aparece é uma pena de pássaro, encontrada e decorada por minha infância. estardalhaços, inconclusões. disseram: algo só termina de verdade quando recomeça todas as manhãs.

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