o movimento do entre pelo tempo e pelo espaço, onde cada palavra é figura esburacada, e o rosto de ninguém expande ao infinito.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Paciência

Achei que estava apenas juntando memórias na parede. Mas a rede por trás daquilo que acontece nunca se engana. Quando uma das metades perdeu-se no fundo de um sonho, caindo pelo túnel-sem-fim que engole gentilmente tudo que transita por ele; quando aconteceu, vi-me frente ao pensamento esguio, desses que não estão no rosto, de que o caminho das plantas enverdeantes do céu é lido sozinho. E sobre meu descanso, então, restou um pequeno ponto azul. Restou um pequeno ponto azul registrando, a partir do sumiço do pensamento, a repetição rítmica das palavras que sussurravam: moramos em seu peito. Quisera eu transformar em rastro, fresco na terra, a troca, enquanto pude compreender tantos movimentos bruscos, o teu "até quando der", como se não dessem flores por todos os caules chuvosos. Fechei os olhos para lembrar-me: incorporaram-me ondas brandas alertando para o tempo, ventania amiga que sempre me acompanhou. Vi, quando convidei o sol, seu encontro com a lua. E então, vi a criatura sem passado ou futuro apagar, por escolha, com um sapato molhado, o presente que lhe cabia. As mãos, por sua vez, procuravam minhas pernas mesmo sem padecer, mesmo no escuro. E ao lento desenrolar, somou-se a origem inesperada do dia: um canto apaixonado, o sopro de longínqua frequência.

Eis-me, então
Por escolha em descaminho
Atenta ao desembocar
De cada passo já esquecido
A um silêncio por segundo
No instante da partida.

Isso,
Começo a compreender.

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