o movimento do entre pelo tempo e pelo espaço, onde cada palavra é figura esburacada, e o rosto de ninguém expande ao infinito.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Fôlego

Estávamos numa noite pouco acolhedora, dona de certo amargor. Porém, a fome que sentíamos mantinha-nos tateando a neve, com nossos poucos dedos, que logo aprendiam seu valor. Meu coração era selvagem, e eu o aceitava em sua deformidade, à maneira da beleza esguia nos lagartos. Por isso, seguia teus olhos, depositando, neles, confiança, mas também respeito a seu marejar. Não me amedrontava a finura de tua pele sucumbindo ao gelo. Eu gostava de admirá-la em resistência, atrelada às sensações. Todas as criaturas ocultas nos bosques e pântanos respiravam tua dificuldade harmoniosa, e, de certa forma, ajudavam-me a perceber a ternura presente na solitude. O silêncio só é real quando há vento e os murmúrios secretos dos mudos. Assim, esperava, no íntimo desejo em meu pesar, que os caminhos por ti fossem descobertos, cautelosamente pisados, e, por favor, amados. Nada disso é pouco. Só há abundância.

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