Ela corre por vales adentro sem
medo do escuro. Seus olhos veem fundo, mas é numa percepção aguçada de sentido,
na pisada firme e desconfiança necessária, que sua existência no mundo se
instaura. Ela se manifesta na sensação da lua. A sabedoria, em seu arfar,
expande espaços e tempos antigos, para desde o princípio da pegada. Ela veio da
terra, mas segue caminho entre a água, movimentando o ar e resguardando a
solidez de seu corpo pela admiração ao fogo. É verdade que sair dizendo dela parece perigoso. Mas é só o que vejo quando encaro este espelho. Vejo o reflexo
de uma outra coisa que não minha pele lisa, a fragilidade de minha cor, e a
tristeza imanente que escorre pelas veias. Quando esburaco estes olhos meus, e
outros de mim, vejo uma velha mulher que não dispõe de palavras ou ornamentos.
Ela é muda de sentido, mas canta, num sussurro audível, sobre a inteira força
do espírito. Aumenta a sensibilidade em meus ossos, e sinto, através dela,
minha participação na ancestralidade. Do espelho emana instinto. E de tudo
aquilo que é dado importância, por experiência sinistra, horrível e sublime,
recupero a antiguidade da coleção, das histórias, do ritmo, e do dar-se as
mãos. A palavra coragem vem do sangue que percorre a todas as faces. E aquilo
que há tanto foi criado, destruiu-se, e pede recriação. Pede novos cantos e
uivos. É preciso permanecer. E dar a morte ao que dela sente sede. Também, por
vezes, recorrer às cartas esquecidas, aos objetos da infância, seja para
queimá-los, seja para incorporá-los ao que hoje transpira.
gostei. transpirar não é o queimar mais lento?
ResponderExcluiré, o fogo e sua destruição inevitável.
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