o movimento do entre pelo tempo e pelo espaço, onde cada palavra é figura esburacada, e o rosto de ninguém expande ao infinito.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

despedida

O retrato que me afasta é aquele do contato com o espelhado de uma flor-de-maracujá, aquele que relembra o movimento sutil dos pés e o peso do chão que o confronta. Para além do olhar-se, mas o tato da própria pele, retorna ressurge como ínfima parte ou gota escorrendo pelo espaço. Meu ato de observação escolhe uma e torce pra que ela vença a corrida pelos vidros que repartem o quente do frio. Quanto tua casa é grande demais, com paredes e piso e teto de madeira, algumas brechas por debaixo, fechaduras complexas, a tempestade que ameaça invadir aterroriza os membros para que trabalhem, e o esforço resguardará a casa. Não se trata de uma escolha; falo aqui de sobrevivência. As partes frágeis e instintivas, os animais menores e os maiores, têm um cômodo central transparente e de única entrada. O tempo se esvai sempre na iminência do porvir, a grande água que lavará todas as coisas, queira tu apegar-se a elas ou não, pois não há critério. Cada agora insistente em permanecer torna-se epifânico quando os olhos refletem a importância de todas as coisas, morrentes, mas ainda respirando. Passa-se a encarar a casa, esburacando para a abertura de cada gesto, em estático tremer-se, à medida que cada detalhe merece olhadelas aprendidas de cor. A violência depende do limite entre a invasão e o cuidado com os seres frágeis. Encontrar-se em transbordância, para esvaziar-se de si e dar lugar ao novo, na manhã seguinte os raios solares penetrarão a casa pelos lamentos da destruição, para aos poucos secar o ambiente. Todas as coisas terão cheiro de umidade e calor, mesmo a madeira podre que segurava o chão longe do despenhadeiro. Será, então, natural respirar, e mover-se pela casa desconfigurada, sentindo sua organicidade, sem preocupar-se com o momento de reconstruí-la. O silêncio ressoará metálico pelos cantos alagados e a luz inevitável. E teu corpo, então, participando do momento complacente pós-morte, oco, rasga-se desde o entre, para ser novamente invadido, já prevendo antes mesmo de ao começo dar-se início, a vinda do perigoso futuro. 

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