o movimento do entre pelo tempo e pelo espaço, onde cada palavra é figura esburacada, e o rosto de ninguém expande ao infinito.

sábado, 18 de agosto de 2012

De oito a treze

1. Embaixo da terra foi quando o mundo se percebeu quadrado, devagar, em força de coisa dura. Não foi diferente que senti os pés pelas mãos, fora de presença, mas tomados por olhos vermelhos. Sua existência em maciez me acalenta apenas a verdade do corpo, pra desorientar o vazio da destruição. Não foi da voz do outro lado da vida que surgiu nuvem, que veio raio de sol para curar a cabeça. Foi, ao contrário, aqui nos dedos firmes como vontade única que flor desabrochou para vulcão consumado em cor. As coisas doces vêm em cheiro, por ar desinibido, mas montanha não caminha à toa. É abaixada e sem pressa, para não mover o chão. O tempo só passa quando o vento aparece, mas disso se sabe. Certas luzes brancas devem ser apagadas, qual desapego em sonho, movendo poeira.

2. Não escondo a palma do pé de monstro que mora em umbigo. Cada folha perdida já foi embora com o vento de agosto, como se os planetas se alinhassem por dentro, em nós, tomando espaço. Há algo no tempo que concentra certeza de vida, feito fio, como que conduz tinta, que tem corpo, surge, feito acontecimento em ação, em movimento, no simples passo, construção desolada, ruínas, noite escura, mas estrelas. Palpitar, mesmo tremido, mesmo sem ver, mesmo descalço, correndo, com tempo no rosto, em rugas, de dia, sorrindo feito tartaruga, mas de verdade, sutil, em presença, de carne e osso e cor e som e voz, dá pra pegar, é invisível, devir-existe. Não é um sonho. Os braços são fortes, os olhos gentis, a pedra é cristal, café forte, mão trêmula, gente derretida, nariz repartido, como observação de velhinho se olhando no espelho. Dorme, pequena. Isso aqui é poeira do céu. Ninguém vai te atrapalhar, porque eu não deixo. Tenho em mim, pra ti. No sangue. Na íris. Porque se tudo não desfosse, não haveria pele. Se não jorrasse movimento, não haveria pausa.

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