o movimento do entre pelo tempo e pelo espaço, onde cada palavra é figura esburacada, e o rosto de ninguém expande ao infinito.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O que é poesia


Trabalho de Teoria da Linguagem Poética, março de 2012.


O que entendo por poesia, no campo da virtualidade, não está nas coisas de pegar, mas nas sutilezas escondidas pelos fantasmas e seres invisíveis.  A poesia é uma lista de coisas elegantes – sinceras, eu diria – presentes nos ruídos e mantras das criaturas desoladas. Trata-se do corpo como coisa concreta e da existência imprecisa, mas firme, das folhas de papel, cujo aroma é o mesmo da pele . A poesia é o movimento virtual do corpo.
Está diretamente ligada à importância de existir. Compreende o lembrar, turvo e eterno, dos olhos, dos lábios, do sexo e do nome, honrando, assim, o rosto pintado. É precisamente de rostidade que falo aqui, sendo que “A palavra signficando chuva deveria cair como chuva” (do filme O livro de Cabeceira).
Poesia diz respeito ao excesso de sensibilidade quanto a despedidas, ao arrebatamento absoluto até a destruição e principalmente ao tratamento igualitário entre humano e página. Poeta é o ser que deixa-se mover pela tinta que circula por dentro e enlouquece de amor para o desespero do limite em palavras. Os poetas comem tinta como beijam a pele de seus papéis e desaparecem no ritual da efemeridade.
O mundo tem mania de esquecer-se da eficiência de um pincel e da importância de utilizá-lo no rosto. Poesia é lutar pela respiração dos poros, somente para, então, entupi-los com cor e toque. É quando o som do grito vem pelo silêncio e a figura pela deformação. A poesia ilumina os nervos, as perdições e a verdade nas coisas. É inútil, já que resiste à hostilidade. A virtualidade é durável e está no vento, ao contrário do que é de pegar.
O poetas estão, desta forma, condenados à vida e às explosões taciturnas de solidão. Posso soar romântica, mas falo apenas dos caramujos em buraco de muro, dos moleques descabelados que ocupam-se do caos e das árvores vadias que inspiram sem querer. Assim, falo apenas do mundo inteiro, sossegado e tímido em devir.

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