Trabalho de Teoria da Linguagem Poética, março de 2012.
O que entendo por poesia, no
campo da virtualidade, não está nas coisas de pegar, mas nas sutilezas
escondidas pelos fantasmas e seres invisíveis.
A poesia é uma lista de coisas elegantes – sinceras, eu diria –
presentes nos ruídos e mantras das criaturas desoladas. Trata-se do corpo como
coisa concreta e da existência imprecisa, mas firme, das folhas de papel, cujo
aroma é o mesmo da pele . A poesia é o movimento virtual do corpo.
Está
diretamente ligada à importância de existir. Compreende o lembrar, turvo e
eterno, dos olhos, dos lábios, do sexo e do nome, honrando, assim, o rosto
pintado. É precisamente de rostidade que falo aqui, sendo que “A palavra
signficando chuva deveria cair como chuva” (do filme O livro de Cabeceira).
Poesia
diz respeito ao excesso de sensibilidade quanto a despedidas, ao arrebatamento
absoluto até a destruição e principalmente ao tratamento igualitário entre
humano e página. Poeta é o ser que deixa-se mover pela tinta que circula por
dentro e enlouquece de amor para o desespero do limite em palavras. Os poetas
comem tinta como beijam a pele de seus papéis e desaparecem no ritual da
efemeridade.
O
mundo tem mania de esquecer-se da eficiência de um pincel e da importância de
utilizá-lo no rosto. Poesia é lutar pela respiração dos poros, somente para,
então, entupi-los com cor e toque. É quando o som do grito vem pelo silêncio e
a figura pela deformação. A poesia ilumina os nervos, as perdições e a verdade
nas coisas. É inútil, já que resiste à hostilidade. A virtualidade é durável e
está no vento, ao contrário do que é de pegar.
O
poetas estão, desta forma, condenados à vida e às explosões taciturnas de
solidão. Posso soar romântica, mas falo apenas dos caramujos em buraco de muro,
dos moleques descabelados que ocupam-se do caos e das árvores vadias que
inspiram sem querer. Assim, falo apenas do mundo inteiro, sossegado e tímido em
devir.
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