o movimento do entre pelo tempo e pelo espaço, onde cada palavra é figura esburacada, e o rosto de ninguém expande ao infinito.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Espinho

Talvez as olheiras vazias de olhos e cabeças baixas de pesar pertencessem a ela, que o amor daqueles caminha por dentro, torto de doença, de culpa latente. O mundo funciona nos órgãos, os dedos é que esfregam o rosto quando garganta presa em falta de corpo pede tinta. Carinho feito prisma surge na distância das costas brancas, risada dos cílios do sol. A lacuna contorce o rosto dela pra dor invisível. Depois, percebe que é de papel cegar, emudecer por mordida, cambalear em queda quando deitado. É hora de comer tinta, de apagar os olhos em som, só de certeza. Que o ar é alimento.
Ela se levanta, então, por pés gelados. Cada músculo de toque era compasso de força, era arranhão pra ossos. O movimento era da compreensão do tempo, de criatura singela em manifesto. Feito parto, de machucado, de torção; feito vida arrancada. De desmanche, cai-se embrisa, de arrepio em volve. Escuro só existe por exaustão de luz. Sombra-casa quando a queda das pálpebras é sorrateira em lágrimas quentes. O sonho é voz, mas a voz dela é mentira. De voz que não sai canto, sai morte. Corpo desmontado é abismo sem tábuas. 
Sem mexer, viu-se: respirar em feita ser. Adormeceu sem a certeza do acordar, mas dela despertar. Foi assim que do passado fez-se espinho e do espinho fez-se enluz. 

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