o movimento do entre pelo tempo e pelo espaço, onde cada palavra é figura esburacada, e o rosto de ninguém expande ao infinito.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

2112

No dia que não dormiu, o homem suicidou-se da esperança. Neste dia, a linguagem peculiar que envolvia fragilidades no intangível congelou-se. Aqui não teve noite, só chuva e luz laranja, melodia de estrada. Não era de mágoa, a atmosfera, mas de algo pairando no ar em suspense de brisa fria. Era de decidir pela não-tristeza que o dia amanhecia com garças no céu. Mas aquelas árvores passageiras do tempo ficaram. Os cafés foram dos mais variados que acabei por tomá-los só. É minha mão no peito que escuto respirar? Ou meu corpo inteiro? É minha pele o máximo de mim? Essas perguntas abandonadas, vazias de passarinho caído de ninho...
Que a música soa em lembrança para combater a esperança. Não restam muitas pessoas que cheirem a vento feito gato, de dar confiança ao que não é objeto. Não existem pessoas de acreditar no dentro de si para ver o reflexo dos olhos de vidro. Seus olhos eram baixos no Sol porque sabiam que nunca seriam maduros para solidão. Eles sabiam do dentro milenar que respira desde sempre.

O meu papelzinho de pôr palavras ao mundo perdeu as estribeiras da borda do morro. Assim feito eu mesma, com massa de bolo e muitas açúcares pelas vísceras. Quando o tempo foi embora, foi de não cansar do cuidado com a respiração das coisas verdes. Tem gentes que respiram para fora demais e constrangem os dias passageiros. As gentes têm que reconhecer o vácuo entre as paredes amarelas do sofrer. Que as coisas não tem que explicar para crescer ou motivo para existir do chão.
No ano em que o vento veio para substituir o amor pelo vazio, atentei-me para o cuidado do tempo. Que nem brisa, que vê o movimento dos algos que fogem muito rápido. Que nem som, que ondeia sem perceber.

Estou em dias de combater a esquizofrenia da dualidade. É momento de soltar as mãos e os pés para o vão de nuvens do vazio umbilical. Lá em cima tem passarinho caído de pé torto sussurrando: a vida é assim mesmo, despenhadeiro de silêncio; não é de se equilibrar entre verdades barulhentas. Dias de largar o movimento mental dos dedos que seguram e se apoiam em extremidades. Que nem sempre o equilíbrio é para sensação de entregar-se ao mundo. Umbigo, me rendo ao tempo. Afinal, "o resto do meu corpo é maior que o meu cérebro".

3 comentários:

  1. "... a vida é assim mesmo, despenhadeiro de silêncio; não é de se equilibrar entre verdades barulhentas."

    ResponderExcluir
  2. Você está caminhando para algum lugar muito próximo da genialidade, she.
    http://www.releituras.com/clispector_amor.asp

    Em breve será meu aniversário. Se quiser me dar um presente, dê um conto. Sim, um conto! hehehe. ;*

    ResponderExcluir