o movimento do entre pelo tempo e pelo espaço, onde cada palavra é figura esburacada, e o rosto de ninguém expande ao infinito.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Devir-silêncio

Hoje perdi os pés de caminhar. Estive tonta de face branca, olheiras de fraqueza vazia. Não é a garganta que dói, mas os olhos que escutam expressões de fora. Não tem gentes por dentro que façam silêncio, mas o barulho por cuidar das gentes de fora. Os pés querem gritar de correr pelas ruas molhadas em suor até cansarem para se esconder num cantinho que os caiba. Para que tudo passe, tudo passe nesse vento que sopra em direção de onde o tempo não marca mágoas. As gentes espremem o fiapo de silêncio para chacoalha-lo. Reaja, reaja! Grite comigo! O silêncio é tão pequeno, pequenininho...
Como ser areia de duna e vento que espalha orvalho, coisa que existe desde que há existência sem tornar um embrulho de vazio em que se esquece de si mesmo? Dói que é difícil respirar quando a expressão deles por fora...

As peles são incisivas quando parecem de pegar. Mas as coisas virtuais é que são de dentro e respeitam o movimento das nuvens. Segurar nas mãos o que não são peles, nem expressões nem palavras, mas covinhas e ruídos, que não são pessoas, que são amor... dói mais que achar realidade em sonho. A realidade é cheia de peles e esconde a virtualidade em entranhas. Somos seres que pegam o tempo todo.
Esse vazio faz as peles serem de mentira. As outras gentes pegam peles como virtuais e desrespeitam o silêncio, que ele dói de existir por dentro como que confunde a veracidade do que existe por fora. Gentes que forçam os dedos contra os corpos outros e esquecem que tocar é do ar que afaga sutilmente a respiração.

De cima do moinho posso sentir virtualidades de verdade, de uma sabedoria simples, como mágica de espelho em rio d'água. Ela sabe do que acredito e da dor que é as peles longe de dentro.

Sou pequenininha que nem o vento. Não tenho grandes gentes por dentro de mim, as peles que pego não são feito gelo ou fogo, mas cobre que lembra mágoas de olhos naturalmente fechados no sol. Que as pessoas não pegam fragilidades pra cuidar, mas peles que arrancam peles que arrancam o amor. Carinho eu faço no mundo inteiro, quando não queima tanto tocar no que não é pêlo de gato. Mas o que eu pego mesmo é longe de fora... É melodia de pirilampo. Desculpas ao mundo que me vê com olhar cheio de superfície. Não acredito mais que essa dor e não sei pegar esse tempo marcado de palpabilidade. 

Eu sinto muito. (é aqui que dói o vazio do amor)

(O Fogo significa o perigo daquilo que é virtual. Não é de pegar, mas queima peles que não respeitam a força do frágil. Impressiona aos olhos o que podemos ver derretendo, mas o que não derrete para ver é o silêncio que aquece as retinas).

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