o movimento do entre pelo tempo e pelo espaço, onde cada palavra é figura esburacada, e o rosto de ninguém expande ao infinito.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Em clima de ar condicionado e chão reluzente de limpo, um homem só contemplava-se na imensidão de reflexos da espera. O elevador descia seus números, arrastado, quase de propósito, em provocação ao homem cujos cabelos caiam sem pudor. Os espelhos preenchiam as paredes para eliminá-las por completo. O homem afrouxava a gravata, sufocado de sua própria figura, que era suas muitas companhias nos metros que se seguiam por todas as direções. Suava debaixo do braço que carregava sua maleta recheada de não-importas. Não suportava mais olhar-se para os lados, o foco procurando o atual cinco do elevador. O homem agora trajava expressão de fantasma assustado com defunto. A boca pendia em tristeza desesperadora, marejando saliva de insanidade. O elevador estava no dois. Quis correr-se, mas não dominava seus membros de movimento. No um, o sangue parou de circular, e a porta abriu-se para o futuro: um novo reflexo de julgamento.

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