o movimento do entre pelo tempo e pelo espaço, onde cada palavra é figura esburacada, e o rosto de ninguém expande ao infinito.

sábado, 20 de dezembro de 2014

dilúvio

(Durante os longos tempos que tomou a reverência à lua em minha curta vida, senti desde o sangue magmático que latejava em meus órgãos a expulsão do que necessita ser presentificado. Estávamos reunidas em círculo para bendizer o dom da vida, homenageando-o com nossas vozes e mãos. Atrás da casa havia o desembocar de águas caindo à meia noite de sagitário. Apontamos nossas flechas enfeitadas com fitas brancas para a correnteza, que desmantelava nossos segredos persistindo no fluir. Todos os sonhos com a chuva desceram à terra úmida que puxava os pés para o fundo da derrocada, ao encontro dos musgos mergulhados na quietude do submundo. Cantamos de olhos voltados para dentro, amanhecendo as novas células do próximo instante, conjurando suas partes com a sabedoria do bombear, as veias abertas a todos os segundos explosivos que arrebentam-se no bater, e a certeza então vindoura, e sempre, de respirações conjuntas.)

A fumaça, não sei sabia se emanava da caneta que eu segurava, da respiração dos gatos, do sonar preenchido que ocupava o ambiente. Dentro de casa habitam os bichos, isso se sabe. É assombrosa a vontade que move os pés até acontecer o desenrolar da relva sobre a terra, e tudo ser novo. Aguardávamos com atenção ao dilúvio, reunidos, esperando que viesse nos encobrir para que subíssemos, nadando com os nossos membros e buracos do corpo. 


Agora aqui põem-se satisfeitas
As anciãs que ataram os cadeados
Do silêncio entranhado em registros
Invisíveis do dizer.

A inteira camada segue costurando-se
Nesta entrega ao Destino de
Minhas mãos movidas a 
Sussurros antigos.

De dentro da caverna reverbera
O rugido afora ricocheteia
A participação avulsa e real
Percorrendo estas cantigas.

E só assim, nesta prontidão
Fantasmática do instante
Que ocorre o impossível
Reproduzir dos sinais.

Nesta conjectura espiralada
Ao meu desejar ao bem-vir
Do dilúvio, reencubro-me
Viva, viva. 

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