o movimento do entre pelo tempo e pelo espaço, onde cada palavra é figura esburacada, e o rosto de ninguém expande ao infinito.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

[não posso dizer como é doloroso mudar a toda eterna morte, confiada ao espaço entre as palavras, nada disso é tão real quanto o suspiro-desespero que agora vem me situar em vazio preenchido simultaneamente, e não sei porque choro, porque vazo por todos os buracos quando sinto tanta dor no incessante esgotamento destas já escritas, para ninguém, vê-se que meu corpo tem várias entradas e saídas].

estou sempre tentando dizer
do que não posso
porque preciso fazer algo
com minhas mãos
para que essa sensação não
me arrebate
ao fundo deste oceano
que toca as nenhumas partes em seus intervalos
onde tem permissão para
não existir essa cortina de memórias
que aproxima o há tanto perdido

escapa o instante da descoberta
que nunca envelhece, mas sempre muda
silenciosa expansão

quando aparece em longo respirar
o corpo esquenta desde dentro
a uma cortante memória
que não mais importa como toque
e deve ser abandonada ao
seu renascimento
neste passo sempre apagado por
sua própria natureza
ao ir embora
como parece ser destino de tudo
que é capaz de amar

não há como parar a dor
mas há como aproveitá-la

hoje, não há carta alguma endereçada
a um novo ninguém que
sequestre a possibilidade da divisão
para um lugar menos solitário
que a beirada da floresta
onde a seus pés só é possível
pertencer ao solo
e o resto desta confusa e desistente
corajosa existência
saudosa do futuro
e, no meio termo, entre
caminhos, entre corações
entre tempos, na infinitude
deste rosto molhado, por
lágrimas velhas, traços finais
do momento para sempre doloroso.

a constatação do real, em
contemplação, que existe
sem justificativas, para
me permitir sentir seu horror

não há como dizer do vazio
nesta passagem, espiral
de algum lugar para outro,
nenhum lugar nesta bolha
o navio em alto mar
alto castelo distante
para urgir esta
brevidade
do contorno ao mutante
às luzes espalhadas pelo céu
infinito e ininterrupto.

Um comentário:

  1. "não existir essa cortina de memórias
    que aproxima o há tanto perdido"
    <3

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