o movimento do entre pelo tempo e pelo espaço, onde cada palavra é figura esburacada, e o rosto de ninguém expande ao infinito.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Ressaca

Descobri Beirut antes de Capitu. Desvendei aquela onda, pedaço deslocado do mar, em que guardava-se choro antigo, desde o nascimento. Antes, quando ainda era menina atraída pela espionagem. Os buracos nos corpos das pessoas, as rugas dos bichos e a improvável combinação entre os sons das músicas que eu ouvia em casa. Foi nesta constelação que tudo gerou-se. No espaço dedicado aos sentidos que percebiam, e rápidas respostas ao outro que prostrava-se. A esta marca de cicatriz, que aqui aponto ao meio do tronco, observo desde a distância, no inversos dos inícios concretos, pelo filtro das águas, em vislumbre ao incessante esvaziamento. A este abismo que aqui aponto. Sua entrada, trespassável ao outro lado, não coletava ou discriminava, e o que eu via eram conhecidas formas à luz infinita. Descaminhei desde o momento em que houve caminho. Eu acreditava mais em meus pés e nos raios solares quando conversava com o vento. Isso que não mencionei era-me inseguro desde o mistério que restou, das furiosas possibilidades, nos olhos onduleantes. Assim, escolhi instrumentos, confiei na extensão do espaço, e parti. A todas as delicadezas porvir, fui provando-as constituintes do efêmero, que nos aponta à iminente morte, na importância do instante sem-fundo. Descobri a respiração cutânea quando quis-me pôr à prova, abdicando de sentido encubado, daqueles que a gente faz crescer à força. Todos os dias passei a dizer-me, enquanto encarava o silêncio deste rosto único, fragmento possível de toda carne, que esta memória servia para alcançar o outro lado do espelho, ao observar-se, sonolenta, o sangue entre os limites. Alguns dias, no entanto, forcei-me à mudez, que me tomava por outros dias mais, encarcerada, culpada às palavras, injustamente. Transfigurava a verdade toda vez que sempre frente ao escrito. Assim, o impreterível enlutamento pelo mundo, morrente – foi o que me disseram, e era o que eu via no refletido – chegava, todas as manhãs, quando, ao envelhecimento, via-me condenada aos suspiros do tempo e às distâncias refletoras.

Um comentário:

  1. a gente escreve pra se matar e nascer, moça. são tudo processos, e os seus, dão gosto de ler

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