o movimento do entre pelo tempo e pelo espaço, onde cada palavra é figura esburacada, e o rosto de ninguém expande ao infinito.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Dívida

Não posso, somente por verso fino, gaguejar pulmões esvaziados ou taquicardia nascida. Cada começar é desespero formado de gente, toneladas de pele, extensões infinitas de silêncio, de voz mastigada. Angústia escondida por debaixo da testa há tempos desmedidos é que me compele. E, assim, o esfacelamento da palavra surda, que vive de pé, trêmula, pronta para cumprir-se ao despenhadeiro. A nulidade infantil daquela carne, daquele único rosto tomado de rio, de quem não respira compasso puro, mas desritmo naturalizado, invasor de território ao abandono, movimenta sumiço de criança ralada, recolhida por vergonha, e então desapareço por entre o chão de terra antiga, habitação-última.

Para ocupar a boca, dou-lhe estes dedos solenes, conformados ao giro arrebatador da força original. A deformidade que lhes convém, da mastigação precoce, a eles confere maneira só de tatear.

Um comentário:

  1. Texto forte, com imagens tão... concretas!
    Continue escrevendo, seus textos são de carne, sangue e osso!

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