o movimento do entre pelo tempo e pelo espaço, onde cada palavra é figura esburacada, e o rosto de ninguém expande ao infinito.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A fita

O começo era a fita mesmo que antes houvesse gente. Desabrigada, sem teto sem casa feito passarinho azul pequeno fraco esfarelento, abandonado. Nada que houvesse nos armários servia para a verdade, não havia alimento para sinceridade exceto a carcaça triste de si mesmo, puro, indefeso. E os espectros habitavam a casa como macarrão velho na gaveta dos fósforos. O dia surgia numa casa livre de gente viva de vida entre os cabelos e o chão. Cada menino que encobria o desespero não ganhava para si as rédeas da máquina. Então um homem falava falou dentro do sol corrido falava como quem é pago, que ganha e esbanja não conta mente homem que dizia poder mostrar. E cada parte pertencia à outra feito filho inato surgido de seus ancestrais. A fita veio em sonho por debaixo dos olhos. E nela havia lembrança de fiapo de ar de coisa empoeirada. E nela havia algo de vida de veia com sangue e pulso e bombear. Enfim desperta, corri sobre o horizonte do frio em cada pedra montanha em lago e distância até desabar cair, joelho sobre terra. O rosto dela desenhado tantas e tantas tantas vezes, as pupilas pretas, a boca firme demais, orelhas no lugar errado. E o pai acusado dentro dela como dias proibidos, futuro que já se foi nunca virá. O amigo então veio e gritou com a surpresa daquele que chega. E as lágrimas dela rolaram por cima do amigo, dos braços pernas do dia da fome da cara, de toda parte. A mão colocou a fita, desenrolou, gravou os lamentos nos dedos que escorriam verdes, sofridos, e ela percebia em cada palavra o surgimento desenrolar da fita, concreta, aquela, a fita da Memória.

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