o movimento do entre pelo tempo e pelo espaço, onde cada palavra é figura esburacada, e o rosto de ninguém expande ao infinito.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Destinatário: ausência

[cartas fracassadas, dezessete de junho] 


Só há começo possível, para então atingir este vazio trôpego, naquele instante há tanto vivido, sem que percebesse, onde escrevia sobre seus olhos de árvore esburacados como quem ama ao respirar. Enquanto soam sinos, barcos e trombetas, transpasso objeto momento definitivo, posto que à mudança iminente ininterrupta ruptura. À sombra desta fina insegurança, face corada por saber, aberta por criar, em fertilidade, a passagem do dia, deu-se sua urgência, que também é minha, pela superposição dos encontros, o tempo errado, para destruir sempre, na força desta terra movente, o fundo do ímpeto, a nossa união. Colapsando em abismo certeza, mas de cada respiração, virou-se em fugitivo teu nome, escapou-me para a chocante colisão entre o vidro real e este espelho, na decisão pelo indeciso, por assim dizer, desdito. E a sua loucura me protegia desta espada, a minha, empunhada contra os redemunhos do mar. Eu, por minha vez, desejava que ao redor eles parassem de quebrar tudo. Já não podia mais suportar a perigosa vontade destas palavras que tornavam em grito canto silencioso do apaixonado. E havia o arfar sobre toda a existência daquele lugar. À abertura última debatia-se repulsando meu exposto interior, para valorizar, em absurda fractal, palavra.
Perdão, pois culpo-me por insistir nestas figuras sígnicas, como se fossem já uma raiz secreta para a distância, que temem ao diferente, pela exigente compreensão. O que aconteceu foi que eles precisavam saber, pois eu já não mais aguentava a solitária cadeira do café e do cigarro, esperando o destino que viria com a vontade daquele que vem. Este foi o frio quarto em que você apareceu. Olhar selvagem vindo do bosque sobre a pedra, suas quatro patas cruzaram por debaixo na cachoeira, para chegar até mim, encolhida à beira, sobre a terra, em estado de atenção. No entanto, foi desta dor ancestral que me surgiu o substituído, vazio de afirmações, para nunca ser hospedado. Eu o amava por recepção incomensurável, mas ali não havia como falar alguma palavra. Assim, desejei desaparecer, como se os sons lá fora não fossem diferentes dos que ouço dentro de casa, no que os percebo iguais, dividindo. Ele se recusava a despertencer-se, ao passo que os sinais por todas as partes urgiam cautela sobre as patas compartilhadas. 
E o meu espaço foi para contemplar o horrível estilhaço, como surpresa antecipada aos seus toques sem amor, escassos da sua inteireza. Observo o lento estilhaço dos braços indômitos, todas as redes aos corações. A boca entreaberta, os olhos enrugados para dentro em choroso reconhecimento. Paro, finalmente, para vislumbrar a catástrofe. 
Ao centro do seio, então, germina a mulher-sob-a-lua, transfigurada, em aceitação ao caos, por sabedoria, desde a continuidade daquilo que se dá à morte. O horrorizado rosto sublimando toda a dor, presente na voz suave que demonstra o instante final, para que se adentre à floresta, desde a coragem nas maçãs e o sangue corrente para o princípio cósmico, o Chaos de toda beleza, pelo que vale, em gratidão. Assim, me vejo perante estas carcaças com ainda a infinitude por te escrever.

Sua,


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